terça-feira, 12 de abril de 2011

Fazer o bem sem ostentação



Em fazer o bem sem ostentação há grande mérito; ainda mais meritório é ocultar a
mão que dá; constitui marca incontestável de grande superioridade moral, porquanto, para
encarar as coisas de mais alto do que o faz o vulgo, mister se torna abstrair da vida presente e
identificar-se com a vida futura; numa palavra, colocar-se acima da Humanidade, para
renunciar à satisfação que advém do testemunho dos homens e esperar a aprovação de Deus.

Aquele que prefere ao de Deus o sufrágio dos homens prova que mais fé deposita nestes do
que na Divindade e que mais valor dá à vida presente do que à futura. Se diz o contrário,
procede como se não cresse no que diz.

Quantos há que só dão na esperança de que o que recebe irá bradar por toda a parte o
benefício recebido! Quantos os que, de público, dão grandes somas e que, entretanto, às
ocultas, não dariam uma só moeda! Foi por isso que Jesus declarou: "Os que fazem o bem
ostentosamente já receberam sua recompensa." Com efeito, aquele que procura a sua própria
glorificação na Terra, pelo bem que pratica, já se pagou a si mesmo; Deus nada mais lhe
deve; só lhe resta receber a punição do seu orgulho.

Não saber a mão esquerda o que dá a mão direita é uma imagem que caracteriza
admiravelmente a beneficência modesta. Mas, se há a modéstia real, também há a falsa
modéstia, o simulacro da modéstia. Há pessoas que ocultam a mão que dá, tendo, porém, o
cuidado de deixar aparecer um pedacinho, olhando em volta para verificar se alguém não o
terá visto ocultá-la. Indigna paródia das máximas do Cristo! Se os benfeitores orgulhosos são
depreciados entre os homens, que não será perante Deus? Também esses já receberam na
Terra sua recompensa. Foram vistos; estão satisfeitos por terem sido vistos. E tudo o que
terão.

E qual poderá ser a recompensa do que faz pesar os seus benefícios sobre aquele que
os recebe, que lhe impõe, de certo modo, testemunhos de reconhecimento, que lhe faz sentir a
sua posição, exaltando o preço dos sacrifícios a que se vota para beneficiá-lo? Oh! para esse, nem mesmo 
a recompensa terrestre existe, porquanto ele se vê privado da grata satisfação de
ouvir bendizer-lhe do nome e é esse o primeiro castigo do seu orgulho. As lágrimas que seca
por vaidade, em vez de subirem ao Céu, recaíram sobre o coração do aflito e o ulceraram. Do
bem que praticou nenhum proveito lhe resulta, pois que ele o deplora, e todo benefício
deplorado é moeda falsa e sem valor.

A beneficência praticada sem ostentação tem duplo mérito. Além de ser caridade
material, é caridade moral, visto que resguarda a suscetibilidade do beneficiado, faz-lhe
aceitar o benefício, sem que seu amor-próprio se ressinta e salvaguardando-lhe a dignidade de
homem, porquanto aceitar um serviço é coisa bem diversa de receber uma esmola. Ora,
converter em esmola o serviço, pela maneira de prestá-lo, é humilhar o que o recebe, e, em
humilhar a outrem, há sempre orgulho e maldade. A verdadeira caridade, ao contrário, é
delicada e engenhosa no dissimular o benefício, no evitar até as simples aparências capazes
de melindrar, dado que todo atrito moral aumenta o sofrimento que se origina da necessidade.

Ela sabe encontrar palavras brandas e afáveis que colocam o beneficiado à vontade em
presença do benfeitor, ao passo que a caridade orgulhosa o esmaga. A verdadeira
generosidade adquire toda a sublimidade, quando o benfeitor, invertendo os papéis, acha
meios de figurar como beneficiado diante daquele a quem presta serviço. Eis o que significam
estas palavras: "Não saiba a mão esquerda o que dá a direita."

Um comentário:

  1. Oi meu amigo!!!
    Boa tarde,

    Somente à Deus cabe saber todas as coisas de cada um de nós não é mesmo?? Tenha certeza que Ele é muito grato por tudo que fazes em benefício de seus irmãos...

    Bjs querido!!!
    Lu

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